No último domingo (19), Bolsonaro, mais uma vez, confraternizou com a pauta reacionária da extrema direita em frente ao quartel general do Exército em Brasília. A concentração de manifestantes pedia o AI-5 e Intervenção Militar, o que na prática fortalece a política assassina do governo diante da calamidade social enfrentada pelos trabalhadores/as na pandemia da COVID-19.
O bolsonarismo é uma concepção completamente oposta a um modelo de coletivização do poder baseado em democracia direta, políticas de igualdade e nas mais amplas liberdades sociais, não pretende instalar nenhum regime de poder popular ou de democracia direta – a utilização do Parágrafo Único, do Artigo 1° da Constituição Federal, não passa de um método golpista utilizado pelo setor reacionário para aproximar um possível discurso “populista”; ele representa uma maneira ofensiva e autoritária de associar a representação burguesa à figura de um líder infalível e o desejo de que as forças repressivas tenham tutela sobre a política. Os setores burgueses e oligárquicos, que estão disputando abertamente o poder político com Bolsonaro, certamente têm pressa em voltar a dominar o jogo, mas tomam muito cuidado com possíveis efeitos colaterais. Eles têm medo de abrir espaço demais para a emergência de um movimento popular das/os de baixo, que cresça na cena pública e brigue por decisões que mexam nas suas regras, privilégios e fortunas. Um cenário como o chileno, por exemplo.
Desde o surgimento da nossa corrente ideológica, o anarquismo especifista, fazemos críticas às estruturas de dominação e opressão – críticas estruturadas e firmadas por nossa prática cotidiana organizativa e nossas escritas – e temos clareza que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal são instituições e mecanismos conservadores de poder e exploração das/os trabalhadoras/es. Instituições que reproduzem o sistema do jogo de poder, que anula qualquer mudança real para acabar com a exploração e dominação. A questão é que a radicalização do bolsonarismo avança pela falência da democracia burguesa e procura liquidar junto qualquer mecanismo de participação popular, que garante direitos individuais e liberdades pública e coletiva. Ele utiliza o maior espaço político que ganhou para atacar e fazer luta de classes contra as organizações populares e da classe trabalhadora. É um tipo de ruptura reversa, que desenvolve formas autoritárias e violentas de governo pela crise, que pode ter a tutela ou colaboração ativa dos fardados. “Radicaliza” com um discurso extremo uma região mais visível da estrutura de poder – os políticos, os partidos e as regras de trocas e conchavos da democracia burguesa – e faz agitação reacionária se aproveitando do imaginário de frustração que as/os oprimidas/os tem com a etapa do pacto social.
Se faz, cada segundo mais, urgente a emergência de organização popular combativa e que caminhe para uma ruptura com as dominações capitalista e estatais e para avançar na construção do Poder Popular – forjado em princípios de solidariedade de classe, autonomia popular e democracia direta. Reforçamos nossas posições, tomadas pelo conjunto das organizações anarquistas que compõe a CAB:
- ABAIXO O GOLPISMO REACIONÁRIO, A INTERVENÇÃO MILITAR OU DITADURA. FORA MILICOS DA POLÍTICA, DAS FAVELAS E DAS RUAS!
- DEFENDER CADA ESPAÇO DE LIBERDADE E DIREITOS PARA O MOVIMENTO POPULAR ATUAR SEM TUTELA. A DEMOCRACIA BURGUESA NÃO FOI FEITA PARA MUDAR AS COISAS!
- FRENTE DOS OPRIMIDOS CONTRA O MODELO DE AJUSTE-REPRESSÃO SOBRE O POVO. UNIÃO PELA BASE, COM A CLASSE E OS SETORES OPRIMIDOS POR REDES DE SOLIDARIEDADE!
- POR DEMOCRACIA DIRETA, ATRAVÉS DA LUTA POLÍTICA NAS RUAS. A ESTRUTURA DO PODER ECONÔMICO E POLÍTICO SE ABALA COM MOVIMENTOS SOCIAIS TOMANDO AS RUAS!
- ANULAÇÃO POR DECISÃO POPULAR DE TODAS AS MEDIDAS DO GOVERNO E DO CONGRESSO QUE LEVAM MAIS MISÉRIA E VIOLÊNCIA PARA O POVO. COMBATER AS POLÍTICAS NEOLIBERAIS, CAPITALISTAS, ATRAVÉS DA LUTA POPULAR!
Nossa perspectiva política, reforçada através de trechos das publicações mais recentes, de análise e de crítica anticapitalista:
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- Pagamos um preço muito alto por não termos punido todos os envolvidos com a ditadura militar brasileira e o golpe que a precedeu. Temos, então, uma democracia burguesa repleta de práticas ditatoriais e com viúvas da ditadura fazendo política hoje, vivos e livres, comemorando, tal como Bolsonaro e Mourão, o podre regime inaugurado em 1964. Um dos resultados dessa ausência de acerto de contas é aceitar um presidente lunático, fã declarado da ditadura militar brasileira, e que hoje ameaça assassinar “seu povo” desprezando a pandemia da COVID-19. Mesmo presidente que, apoiado pela burguesia mais inescrupulosa, rodeado de militares e políticos de extrema-direita, convocou no dia 15 de março manifestações que solicitavam um novo golpe militar e, em entrevista, quando perguntado se daria um golpe, disse que “quem quer dar um golpe não avisa”. Que o povo não se engane! Quem fala em intervenção militar, ditadura ou militares na rua, fala em repetir práticas da ditadura pra silenciar o povo e fazê-lo passar fome. Por isso, dizemos bem alto: Fora militares! Da política e das ruas! Não esquecer! Jamais Perdoar!
- O Bolsonaro que briga com a Globo não está enfrentando o sistema capitalista e o modo neoliberal de governar pela crise permanente. Pelo contrário, está acertando contas com rivais e desafetos, disputando controles e espaços dentro do sistema. O bolsonarismo é a faceta autoritária e conservadora do poder que quer quebrar e diminuir a resistência popular, as pautas de igualdade social e das liberdades. Não vamos esquecer que Bolsonaro foi criatura histórica da campanha de reação neoliberal, incitada pela Globo e pela Lava Jato, que abriu espaço ideológico para a extrema direita ocupar as ruas, as redes sociais e ganhar a decisão política que tem hoje.
- Está enganado quem classifica isoladamente os atos de Bolsonaro como insanidade. Ele não fala sozinho! Ele convoca um movimento pela pauta de terror da CNI – o sindicato nacional dos industriais – e de outros grupos poderosos pra quem a vida dos pobres ou vale nada ou só serve como burro de carga dos donos da “economia”. Esse é o capitalismo que governa as periferias mundiais pelas técnicas de poder colonial e escravista.
Nenhuma opressão é eterna e invencível. Que viva nosso povo e que lute sempre para não ser reduzido à carne barata ou cova rasa. Não vamos esquecer e não vamos perdoar os crimes de Estado e das classes dominantes. A revolta popular, cedo ou tarde, quebra a onda reacionária e impõe seus danos à máquina de oprimir e humilhar as/os de baixo.
Nenhuma ditadura, de qualquer tipo, tampouco essas formas políticas de representação controlada pelas oligarquias, que chamamos de democracia burguesa, dão decisão para as classes oprimidas mudarem de vida. Está na ordem do dia uma linha forte e independente de movimento popular de base para lutar por igualdade e repartir as riquezas, tomar decisões importantes e vitais para a vida com DEMOCRACIA DIRETA.
Nada de salvador da pátria ou lideranças infalíveis de um estado policial. Nada de governar pelo garrote da polícia e da economia de mercado.
Pelo Socialismo Libertário
Organizar, Lutar, Criar Poder Popular