[CHILE] Nasce a Federação Anarquista Santiago

Tradução da nota de fundação da Federação Anarquista Santiago, do Chile. A versão original pode ser lida aqui.

Nos inscrevemos nos últimos 20 anos de recomposição do anarquismo social e organizado, tempo que esteve marcado pela compreensão da necessidade de contar com uma organização política e também da importância que tem a inserção nas diferentes lutas da classe dominada.

A criação desta Federação busca, com humildade porém com muita convicção, demonstrar que o anarquismo especifista na região chilena não morreu e que hoje, mais do que nunca, nosso projeto político deve se posicionar como uma alternativa contra esse sistema de dominação capitalista e patriarcal. É por isso que, para nós, hoje é um dia histórico, já que sentimos que somos mais uma expressão do anarquismo organizado que, desde o fim do século XIX até hoje, buscou contribuir com a influência de suas ideias e práticas para as lutas mais profundas dos povos.

Vivemos um período histórico marcado por uma crise social e ecológica ocasionada pela exacerbação do extrativismo, a espoliação dos territórios e o controle dos corpos por parte do sistema de dominação. Esse cenário coloca novos desafios para o anarquismo.

Entender o sistema de dominação e as relações de dominação para ampliar os campos de inserção nas lutas populares se torna um ponto chave. Se existem diferentes âmbitos de dominação, qualquer expressão classista de luta contra ela é um campo fértil para o anarquismo, e isso é fundamental para sair da ideia segundo a qual existem lugares privilegiados para a organização em comparação com outros. Esse sistema, que exerce poder e coerção através de relações de dominação, para nós tem dois pilares fundamentais: a dominação patriarcal e a dominação capitalista. Os efeitos dessa imbricação são os que se manifestam atualmente na sociedade.

Pensamos nossa estratégia de ruptura a partir dessa análise, em uma perspectiva que priorize a não fragmentação das opressões, tendo presente que não existe uma dominação por cima de outra, mas que elas acontecem dependendo do contexto histórico em que se delimitam. Assim, o racismo, o (hetero) sexismo e o classismo são opressões que operam de maneira simultânea, coexistem, são consubstanciais e se imbricam.

Diante disso, propomos elementos estratégicos como a despatriarcalização, a descolonização, o federalismo e a autogestão revolucionária como alternativa para a destruição do sistema de dominação patriarcal-capitalista e sua estratégia colonial, e a construção de uma sociedade autogestionária revolucionária, federalista, que elimine as classes sociais, as normas de gênero e as divisões raciais, em que nosso horizonte de vida será comunitário, ecológico e feminista.

A conjuntura política atual é marcada por um contexto repressivo expresso, por exemplo, na lei de migração, na “sala de aula segura”, na reformulação da lei antiterrorismo, na militarização e na implementação de estados de exceção, somadas ao cerceamento de direitos sociais, com a reforma da previdência, a reforma tributária (que busca manter as taxas de lucro em um contexto de crise econômica), o avanço da ofensiva neoliberal na saúde, na questão da moradia, na educação e na flexibilização da legislação ambiental. Quanto à economia, a marca é a precarização da vida, que adquire uma importância estratégica na perspectiva do conflito patriarcado/capital contra a vida, com uma liberalização extrema marcada pela assinatura de tratados como o TPP 11 – TLC – APEC, a hiperdívida (queda dos salários reais) e a desaceleração da economia. Quanto ao social, está acontecendo um aumento da violência: com “detenções cidadãs” (prisões realizadas por pessoas não policiais), surgimento de quadrilhas, xenofobia, narcotráfico, homo-lesbo-transfobia, feminicídio, racismo, destruição do tecido social, depressão e crise ecológica. Isso tudo só serve para nos convencer que nossa alternativa anarquista anticapitalista, antipatriarcal e ecológica é mais do que necessária para contribuir ao conjunto de forças políticas que lutam por uma mudança revolucionária da sociedade.

VIVA O ANARQUISMO SOCIAL E ORGANIZADO!!

VAMOS FORTALECER A ESTRATÉGIA ESPECIFISTA LATINOAMERICANA!!

ARRIBA LOS Y LAS QUE LUCHAN!!

FEDERAÇÃO ANARQUISTA SANTIAGO

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